Almanaque Particular
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Momentos
Sentir e não saber explicar
quando a gente parece uma bomba
prestes a explodir de tantas formas
em risos
ou então em lágrimas
de felicidade
euforia, ansiedade
às vezes até de tesão
por um momento
certos dias, talvez
horas, minutos, segundos
instantes de felicidade plena
que não tentam se justificar
pois são o que são
completos assim
extraordinários
únicos e efêmeros
dias assim
noites assim
que imagem alguma
pode capturar
traduzir
de forma real
tão vibrante
ou intensa
quanto a vida!
Happiness
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Vocabulário
As palavras arranham
feito espinhas indigestas
presas à garganta
Dilaceram como feras
com suas garras afiadas
e significados cortantes
As palavras eclipsam
quais lágrimas furtivas
escapam por entre os dedos
Dissimulam como amantes infiéis
com promessas enganadoras
e desculpas inocentes
As palavras enredam
feito criaturas intrusas
entre tentáculos sufocantes
Avançam como gatunos
com suas lâminas sorrateiras
à espreita nas esquinas
As palavras afloram
qual sentimento represado
prestes a romper as barreiras
Inundam como oceanos
de profundas verdades
e inconvenientes certezas
As palavras enlevam
feito moinhos de sonhos
e intangíveis quimeras
Assombram como espectros
com seus múltiplos sentidos
entre vozes dissonantes
As palavras
quando não nos faltam
podem ser surpreendentes
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Sobre o Amor e a Solidão
O amor e a solidão não podem habitar a mesma casa
quando há a sensação de solidão, o amor não está presente.
É possível ocultar a solidão sob a palavra 'amor'
mas quando o objeto amado se vai ou não corresponde
tomamos consciência do vazio, e surge a frustração.
Usamos a palavra 'amor' como uma fuga de nós mesmos
de nossa própria insuficiência.
Apegamo-nos a quem amamos
sentimos ciúme, sentimos a sua falta
ficamos perdidos em sua ausência.
Será tudo isso amor?
O amor não é uma idéia
não é algo a ser usado como fuga do vazio
quando o usamos desse modo, criamos problemas insolúveis.
O amor não é uma abstração
mas sua realidade só pode ser vivenciada
quando a idéia, a mente, não for mais o fator supremo.
Em tempo: este livro do Krishnamurti foi o mais próximo que já cheguei de obras de auto ajuda. quem me dera poder dizer que aprendi as lições... apesar do tom extremo, estas palavras são positivas. o amor deve ser um estado de serenidade e de plenitude em si mesmo, não uma fonte de angústias, expectativas e cobranças. enfim, está dado o recado (ou talvez seja apenas um lembrete para mim mesmo).
domingo, 5 de dezembro de 2010
Desejo
Degelo
De tempos em tempos enfrento um tipo de crise. Algo relacionado com a necessidade de definição da minha auto-imagem. Creio que seja algo comum a outros, conscientemente ou não. Auto conhecimento é essencial para que possamos ser verdadeiros. E manter a integridade sempre foi questão de honra para mim. Ser verdadeiro comigo mesmo e com aqueles ao meu redor que compartilham desde o mais breve momento, até aqueles raros amigos de longos anos.
O problema é quando nos iludimos, acreditando ser aquilo que não somos, ou que já deixamos de ser. Difícil perceber ou ter a coragem de admitir. Ao assumir nossas verdades é preciso encarar as conseqüências de nossos atos de frente. Ingênuo é acreditar que as pessoas vêem apenas aquilo que desejamos mostrar.
Há tempos, caminho no limiar desse abismo entre a ilusão de ser o que almejo - o bom e velho ideal de mim mesmo - e a coragem de encarar a mudança, resultado inevitável de cada escolha, acertada ou não.
Involuntariamente, em algum momento tomei um caminho desconhecido. É engraçado perceber como as incertezas assustam, ao mesmo tempo em que acenam com um mundo de novas possibilidades. Diante de uma série escolhas e decisões práticas, congelei. Medo, insegurança, falta de motivação, somavam-se à frustração de me ver tão distante de minhas quimeras, sonhos e planos irrealizáveis. O ponto crítico foi justamente a inércia. Um estado de imobilidade me impedia de trabalhar com eficiência, me divertir sem culpa ou me relacionar sem medo de julgamentos.
Felizmente existem remédios para momentos como esse. Muito apoio, bons conselhos e um pouco de força de vontade para colocá-los em prática. Uma bronca bem dada ou um chacoalhão bem enérgico - daqueles capazes de demolir as barreiras e forçar a ação - também ajudam. Tive um pouco dos dois, seguidos de um breve, mas oportuno, momento de pausa e reflexão. A paciência, compreensão e carinho de alguns, somada ao pulso firme e sinceridade de outros, me preparou para os próximos passos.
Já posso encarar o espelho e me reconhecer, mesmo refletido em uma imagem tão diferente da que eu imaginava. Aos que pacientemente me aturaram durante anos de surtos emotivos, discursos utópicos, floreios e arroubos leoninos, não nego meu passado ou minhas escolhas, que afinal renderam boas experiências. Também não nego minha natureza sonhadora e idealista, embora encare com maior realismo minhas limitações e aceite os obstáculos a serem transpostos.
O gelo vai aos poucos se desfazendo e a enxurrada começa a correr. Muita água deve passar sob esta ponte, mas a vida precisa mesmo de uns abalos sísmicos para entrar nos eixos! Olho no espelho e não vejo mais um casulo que abriga uma metamorfose abstrata. Contemplo a superfície plana e vejo um indivíduo em construção. Sinto-me grato por isso.
Pra variar, um desvario
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